Scott Pilgrim (Michael Cera), ao lado de Ramona Flowers, Neil, Knives, Kim e Stephen Stills
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
A experiência de assistir a um filme costuma ser bastante solitária. Mesmo quando se ri junto ou se chora junto, a vivência daquela história parte quase sempre do indivíduo em direção a ele mesmo. "Quase" porque com a primeira sessão de Scott Pilgrim Contra o Mundo no Festival do Rio e, portanto, a primeira sessão do título com o público que ansioso estava para assisti-lo, se prova que a experiência de assistir a um filme pode sim partir de um sentimento compartilhado, pois que de repente o coletivo de risos e aplausos diz ao indivíduo espectador que aquilo não se trata apenas de um longa-metragem em 35mm, mas de uma confraria.
Porém, antes de chegar ao ponto em que vamos falar das estampas de camisa e da cor de cabelo de quem foi assistir a essa sessão completamente lotada da meia-noite dessa segunda-feira (4), um pequeno prefácio ao histórico desse jovem baixista canadense e carente chamado Scott, uma criação do quadrinista Bryan Lee O'Malley.
Agendado para estrear no Rio de Janeiro no próximo dia 29 de outubro (e somente depois em São Paulo para, em seguida, passar por algumas cidades do País), mais de dois meses após sua estreia nos Estados Unidos, o filme de Edgar Wright com Michael Cera no papel título, foi o grande caso de propaganda contraproducente das chamadas novas mídias. Isso porque, acreditando em todo poder de fogo dos fãs da história em quadrinhos que inspirou o filme, e no próprio "buzz" que surgiu depois que o primeiro trailer foi divulgado, a Universal Pictures apostou mais alto do que devia e terminou lançando o título no mesmo fim de semana de Os Mercenários e Comer. Rezar, Amar. Jogar suas fichas contra Sylvester Stallone e Julia Roberts foi o mesmo que atirar no espelho e o filme terminou amargando uma bilheteria pífia. Ou melhor, pífia apenas para o estúdio, que acreditava no clique a clique da internet e, claro, em Papai Noel.
Tendo isso dito, a aguardada estreia de Scott Pilgrim no Brasil terminou sendo adiada, depois ficou sem data e agora voltou a ter dia fixo no calendário. E depois da animada sessão à meia-noite no Festival do Rio, aos donos da distribuidora, um recado: mesmo se o filme não bater as metas dos gráficos que vocês desenharam, podem apostar que é com esse tipo de filme que se alimenta aqueles que respondem pelo nome de formadores de opinião e estes por sua vez retroalimentam a indústria em um marketing orgânico.
Filme mais procurado desde que o festival abriu suas bilheterias, no último dia 24 de outubro, Scott Pilgrim não decepcionou o entusiasmado público que assistiu à sessão de meia-noite na Estação Botafogo de cinema. Boa parte dos espectadores, possivelmente a maioria deles, já havia lido o primeiro volume do jovem e moderno herói dos quadrinhos, editado no Brasil pela Companhia das Letras. O vestuário dava conta do perfil: Lanterna Verde, Robert Crumb e, claro, o próprio Scott Pilgrim estampavam algumas camisas. Entre as meninas, duas chegaram ao cinema com cabelos completamente descoloridos: uma com fios verdes e outra com tintura azul, tal como a Ramona Flowers dos quadrinhos de O'Malley.
Eufóricos, os fãs (e mais alguns poucos desavisados que terminaram entrando no clima), só faltaram jogar confetes e serpentinas quando surgiu em cena a primeira imagem de Pilgrim, vivido por Michael Cera. O resto da sessão não seria diferente, com aplaus os, gritos e largas risadas que surgiam a cada referência a este extenso universo da cultura pop: de Seinfeld a Super Mario, nada escapava aos olhos e ouvidos atentos daqueles que já nasceram acostumados a fazer leituras simultâneas de diversas mídias em um só meio. Nesse aspecto, a (meta)linguagem de Scott Pilgrim, os quadrinhos, e Scott Pilgrim, o filme, te leva a acreditar que é sim possível assobiar e escovar os dentes ao mesmo tempo.
A direção de Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso) consegue a proeza de manter um ritmo alucinante de trailer durante todo o filme. Portanto, se você assistir agora a um dos dois trailers de Pilgrim, vai entender que aquele divertido nervosismo da edição de cenas tem exatamente a mesma velocidade no filme inteiro. Do começo ao fim, é como se o roteiro prendesse o fôlego, sem espaço para grandes respirações. Poderia se tornar uma experiência extremamente cansativa, particularmente para quem não leu e não tem interesse em ler os quadrinhos. Mas Wright fez o dever de casa e conseguiu criar uma trama cujo senso de humor está justamente em fazer piada desse jeito rápido e instantâneo que gerações mais novas têm de viver as coisas.
A história do jovem baixista canadense e carente acima citado começa quando ele anuncia que está namorando de novo. Sim, de novo porque o rapaz ainda não conseguiu superar sua ex. Mas essa é uma história pra mais adiante, importante para o começo dessa história é entender que Pilgrim é aquele rapaz cujo cérebro começou a funcionar quando a Nitendo entrou no mercado de games. Em outras palavras, sua vida é um jogo e a princesa que ele precisa resgatar no fim da linha não é a namorada do começo do filme, mas sim Ramona Flowers, garota que muda de cabelo com mais frequência que Madonna e cujo primeiro encontro com Pilgrim se dá em um sonho.
Como princesa desse game da vida real de um pós-adolescente que mal consegue pagar as contas de casa, Ramona não será assim fácil de se conquistar. Afinal de contas, ela tem sete ex-namorados. E sim, esses namorados (incluindo aí uma menina - "foi uma fase") formam um tipo de Liga da Justiça que irá combater, um a um, o lânguido Scott.
O elenco do filme está, todo ele, impecável. Michael Cera, o ator cuja carreira se lançou na inteligente sérieArrested Development e que parece escolher apenas papeis moderninhos em sua carreira cinematográfica (Superbad, Juno e Nick e Norah - Uma Noite de Amor e Música entre eles), é a representação máxima do encantador e charmoso perdedor, há de se pensar que ele foi feito para esse tipo de personagem. Kieran Culkin - o verdadeiro talento da família Culkin - faz de Wallace, o melhor amigo gay de Pilgrim e capta muito bem o senso de humor blasé do personagem dos quadrinhos. Mary Elizabeth Winstead (atriz de títulos como O Chamado 2, Premonição 3 e Duro de Matar 4) dá respeito à Ramona Flowers supostamente madura e propositalmente entediada.
O filme traz ainda nomes como o de Alison Pill, Mark Webber, Johnny Simmons e Anna Kendrick, todos membros de uma nova geração de talentosos atores que estão em alta no mercado. Sem contar, claro, as duas grandes referências no elenco aos filmes de quadrinhos: Chris Evans (mais conhecido como o Tocha Humana da franquia Quarteto Fantástico e, em breve, como o Capitão América) e Brandon Routh (o Superman do filme de Bryan Singer). Melhor do que isso, só mesmo a piada lá pro final do filme: "os quadrinhos são sempre melhores que as adaptações". Se isso for de fato uma verdade, Scott Pilgrim é uma exceção à regra.
E lembrando que no dia 7 Vamos Lotar a Sala de Exibição do Filme em Galera esperamos vocês Lá
0 comentários:
Postar um comentário