Ué, você vai falar do volume dois sem nunca ter resenhado o volume 1 aqui no Judão?”. Sim, amigo. Só agora pude agora botar minhas mãos nos dois primeiros volumes nacionais da saga de Scott Pilgrim para poder avaliar não só a história, mas o formato que a HQ está saindo no Brasil. Por isso, considere este review de Scott Pilgrim Contra o Mundo vol.2 (Quadrinhos da Cia., 408 páginas, R$ 35), que foi lançado no final de outubro, como também uma análise do primeiro álbum.
Caso você não more no limbo, sabe que Scott Pilgrim é um daqueles novos personagens que, por suas diferenças e inovações, se tornou um sucesso nos quadrinhos atuais. Scott é um jovem canadense igual a qualquer um dos leitores, com seus objetivos, sonhos e problemas, e se apaixona por uma “gorda moderninha” (como a sua “namorada colegial” Knives Chau classificaRamona Flowers no decorrer da HQ). Pra piorar, caso queira ficar com a Ramona, Scott terá que enfrentar a Liga dos Sete Ex-Namorados da Ramona, praticamente uma galeria de vilões. E todos com um passado amoroso com a nova namorada de Scott Pilgrim.
Nos EUA e no Canadá, a história foi publicada em seis volumes diferentes. Por aqui, a Companhia das Letras resolveu lançar tudo em apenas três volumes. Sendo assim, Scott Pilgrim Contra o Mundo vol.1 reúne A Preciosa Vidinha de Scott Pilgrim e Scott Pilgrim Contra o Mundopropriamente dita, com a segunda parte trazendoScott Pilgrim and The Infinite Sadness (o nome não foi traduzido) e Scott Pilgrim Entra na Linha. Por motivos óbvios, toda a série nacional está sendo publicada com o nome do longa-metragem que acabou de estrear nos cinemas brasileiros.
Diferenciais (ou, “Porque esse negócio deu certo”)
O que chama atenção no trabalho do quadrinista Bryan Lee O’Malley é a forte influência dos mangás. Não, não diria que dá para classificar a história do Scott Pilgrim como mangá, mas a arte de O’Malley tem forte influencia japonesa, além do próprio roteiro. Afinal, não existe nada mais japonês do que resolver problemas de uma pessoa comum com poderes e situações de uma ficção fantástica. A HQ até brinca com isso, colocando um aviso na última página para quem abre o álbum do lado contrário, seguindo a ordem de leitura oriental.
Mas não é só a influência do mangá, que virou febre no ocidente, que faz de Scott Pilgrim o sucesso que é. Aliás, tenho aqui uma teoria pode causar polêmica entre os fãs de histórias em quadrinhos mais antigos. Mal comparando, dá para dize que Scott Pilgrim é o novo Homem-Aranha do século XXI.
Sim, eu disse que Scott Pilgrim é o novo Homem-Aranha.
Antes que alguém me apedreje, vou explicar. Stan Lee criou o Homem-Aranha para ter uma identificação total com os seus leitores. Peter Parker era um jovem normal, com problemas normais, que queria se relacionar com garotas normais e pagar contar normais. Entre um problema da vida civil e outro, ainda se balançava pelos prédios de Nova York derrotando vilões, para a alegria dos leitores, que se viam, pelo personagem, realizando o desejo de serem super-heróis. Na fase na qual Lee contou com os desenhos e a parceria de John Romita, essas características se aprofundaram ainda mais. Quem aqui nunca leu aquelas HQs e se apaixonou pela Gwen Stacy?
Corta para 2010. Super-heróis jovens e com problemas dos jovens já são algo mais do que comum, já que a fórmula do Homem-Aranha foi um sucesso nestas cinco últimas décadas. No entanto, o jovem evoluiu. Nós registramos anos e anos de cultura nerd em nossos cérebros e enfrentamos os nossos problemas (que, aliás, não mudaram muito em relação aos enfrentados por Peter Parker) justamente resgatando e brincando com essas referências. Quem nunca aqui quis ficar com a garota mais cool da escola/faculdade/trabalho/whatever? E quem nunca quis recorrer ao martelo do Thorou ao (coloque o nome do seu golpe de game de luta favorito aqui) para acabar com aquele ex chato dela?
Aí que está a beleza de Scott Pilgrim. Ele fala de nós, para nós e com aquilo que nós gostamos. Assim como o Cabeça-de-Teia fez há quase 50 anos.
Pelo jeito, a fórmula de Bryan Lee O’Malley também deu certo com os leitores brasileiros. O primeiro volume de Scott Pilgrim Contra o Mundo que chegou à minha mão é da terceira impressão, lembrando que foi lançado em abril. Ou seja, o álbum já superou duas vezes a pretensão de vendas da editora em poucos meses. Isso sem contar os inúmeros leitores que foram atrás de scans ou compraram direto dos EUA, motivados pelos comentários dos amigos, sites e pelo filme. O segundo volume ainda está na primeira impressão, já que acabou de ser lançado e teve a sua tiragem encomendada já com as vendas da primeira edição em mente.
A edição nacional
Já que voltei a falar dos encadernados nacionais da Companhia das Letras, cabe falar especificamente da nossa edição. A editora realizou um bom trabalho no que se refere à tradução e adaptação do conteúdo. Scott Pilgrim e Ramona não falam como personagens de um filme mal dublado, mas usam palavras e expressões utilizadas justamente pelo público que vai ler a HQ (ou seja, por nós!). Se não fosse assim, toda aquela identificação que falei antes não vai para o ralo.
O fato de ter reunido duas edições da série original em um álbum também foi bom, por um lado. Assim, o leitor só precisa esperar três encadernados e há uma redução de custos por história publicada. O preço, aliás, é bem justo, já que não é sempre que é possível comprar 400 páginas de HQs por R$ 35.
Infelizmente a grande bola dentro também é a maior bola fora. Com quase 400 páginas cada, Scott Pilgrim Contra o Mundo vol.1 e 2 sofrem do que chamo de “efeito lista telefônica”. Você deve lembrar daquele livro bizarro, que era muito usado há muito tempo atrás, antes da humanidade criar oGoogle. Nas grandes cidades, essa grande lista de telefones resultava em um livro enorme que, ao ser muito utilizado, tinha a lombada a amassada. E foi justamente isso que começou a acontecer nos meus exemplares. Efeito do grande número de páginas em uma edição em brochura.
Outro problema é que todas as páginas saíram na nossa versão em preto e branco, mesmo aquelas páginas originalmente publicadas em cores nos EUA. Isso sim foi um #fail da Cia. das Letras.
Para quem viu o filme
Se você é daqueles que acredita que “ah, vi o filme, já tem tudo que há na HQ”, cabe o um aviso. Apesar de adaptar de forma quase literal muitas partes dos seis álbuns, o filme corta muitas informações importantes, principalmente sobre o passado de Scott Pilgrim. Há também passagens que são mais aprofundadas nos quadrinhos, facilitando até a compreensão de algum fato que ficou nebuloso quando você viu o longa-metragem. Outras (poucas) passagens são exclusivas do filme ou ficaram fora de ordem original da montagem do longa. Além disso, o volume 2 também reúne umas HQs e pin-ups de amigos de O`Malley.
Por tudo isso, Scott Pilgrim Contra o Mundo deve sim ser lida por qualquer um que nasceu a partir de 1982, por aí. É obrigação. Quem sabe você, ao menos, não aprende a cozinhar algum comida vegan, não é?
Ah, sim. Seguimos aguardando ansiosamente a publicação de Scott Pilgrim Contra o Mundo vol.3aqui no Brasil.
Para conferir o preview de Scott Pilgrim Contra o Mundo vol.2 em PDF, click aqui. ;)
Scott Pilgrim Contra o Mundo vol.2
Roteiros e arte: Bryan Lee O`Malley
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 408 (formato 12,7 x 19 cm, capa cartonada, brochura)
Preço: R$ 35
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 408 (formato 12,7 x 19 cm, capa cartonada, brochura)
Preço: R$ 35
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